quinta-feira, 6 de setembro de 2012

O que penso quando ando sozinha

Olho para a palma da minha mão com os dedos afastados.

Comparo com a árvore que tenho à minha frente.

Lembro-me da couve de brócolos.

Vem-me a imagem do sistema respiratório - a traqueia que ramifica nos brônquios, nos bronquíolos, nos alvéolos.

O tronco cerebral, e o cérebro.

Uma petéquia.

A árvore genealógica.

O meu corpo todo, que é como a minha mão mas com os membros em posição distinta dos dedos.

O sistema circulatório - as grandes artérias, que desembocam em veias, que se ramificam em finíssimos capilares.

E a folha da árvore para a qual olho, com uma nervura central que desagua em nervuras secundárias.

Olho para tudo o que tem vida, e vejo o mesmo. Reparo em tudo o que não tem vida, e não vejo diferenças.

Por momentos parece-me tudo tão, tão igual. Tudo tão vindo da mesma regra, descendente do mesmo princípio universal, tudo tão pouco ao acaso. Um troco comum (ou uma traqueia, ou um troço, ou um braço, ou uma artéria), que se ramifica em algo distinto, cada vez mais pequeno, às vezes tão pouco semelhante ao início que o origina que nem parece que veio de lá.

Este era o mistério que eu queria mesmo saber. A verdade que dá sentido a tudo. Aquela que me esqueci por algum motivo, mas que nem por isso deixou de existir.
Acredito nisso da mesma forma que acredito que vivi entre os 0 e os 3 anos, embora não me lembre de nada.
Suspeito até que este início de vida com amnésia prolongada seja uma lição de fé.


Sem comentários:

Enviar um comentário